Havia certa vez um rei muito caridoso. Ele procurava governar o seu país da melhor maneira possível. Porém, apesar de todos os seus esforços, ele não conseguia agradar o povo. Havia muita reclamação entre os seus súditos.
Ele, então, procurou conselho junto aos sábios da corte para saber o que fazer para conseguir agradar o povo. Os sábios se reuniram e chegaram à conclusão que, para o rei entender os anseios do povo e fazer um governo que os agradasse, só haveria uma maneira: ele tinha que descer do trono, se juntar ao povo e se tornar igual a eles.
O rei fez conforme lhe aconselharam. Ele saiu do palácio, se vestiu como um colono e foi morar entre o povo. Ele começou a sentir o que o povo sentia e ouvir as reclamações que o povo tinha a fazer. Ele viu que o que povo queria não era grandes obras, mas sim, estrada, saúde, educação e segurança. Segundo a lenda, depois de um ano, ele voltou novamente ao palácio e fez um grande governo.
Foi isso que Deus fez na pessoa de Jesus por ocasião do primeiro Natal. Ele assumiu a identidade humana. Ele renunciou ao trono da glória para conquistar o coração dos seres humanos. Diz o apóstolo Paulo na carta aos Filipenses: "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homem; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz" (Filipenses 2.5-8).
E o autor da carta aos Hebreus escreve, dizendo: "Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se de nossas fraquezas; antes, ele [Jesus] foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Aproximemo-nos, portanto, confiantemente junto ao trono da graça a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna" (Hebreus 4.15-16).
No Natal nós nos lembramos da humanação de Jesus, quando o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Nesse dia o rei Jesus deixou o trono da glória para se fazer um ser humano como qualquer um de nós, a fim de cumprir a lei em nosso lugar, evangelizar os povos e morrer pelos seres humanos.
Durante o tempo em que Jesus esteve aqui na terra ele, embora fosse o Emanuel, o Deus encarnado, ele se comportou como um simples ser humano, mostrando a sua divindade apenas algumas vezes quando realizava os seus milagres e fazia os seus discursos.
Se nós formos olhar para a vida de Jesus, parece que tudo deu errado. Primeiro, ele nasceu numa estrebaria, num curral de gado. Era de se esperar que Jesus nascesse num palácio. Afinal, ele era o Filho de Deus, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. Foi por isso que os magos do oriente, quando vieram adorar o Menino Jesus, o procuraram no palácio do rei Herodes em Jerusalém. Mas lá não havia ninguém. O rei Herodes nem sabia do seu nascimento, nem tampouco o povo de Jerusalém.
Depois, no seu ministério, ele foi rejeitado e desprezado. Ele não foi bem aceito pelos homens. Diz o apóstolo João: "Ele veio para os seus, mas os seus não o receberam" (João 1.11).
Às vezes ele não tinha nem lugar para dormir, para descansar o corpo. Por isso, num certo lugar dos Evangelhos, ele reclama, dizendo: "As raposas têm os seus covis, as aves dos céus ninhos, mas o Filho do homem não tem nem onde reclinar a sua cabeça" (Mateus 8.20).
E, finalmente, no fim de sua vida, ele foi humilhado, desprezado e colocado numa cruz, como um criminoso, como um marginal, como um bandido. Parecia que ele estava sozinho, que até o próprio Deus o havia abandonado. Por isso, como que desesperado, ele clama no alto da cruz: "Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?" (Mateus 27.46).
Mas Deus não o havia desamparado. Tudo o que estava acontecendo com ele estava nos planos de Deus: desde o seu humilde nascimento, até a sua morte na cruz. Isso tudo havia sido predito pelos profetas. Esse era o plano de Deus para salvar o mundo. O profeta Isaías, por exemplo, depois de descrever em minúcias o seu sofrimento e morte no capítulo 53 do seu livro, conclui dizendo: "Quando ele [Jesus] olhou para trás e viu o fruto do seu trabalho, ficou satisfeito".
Jesus, segundo o plano de Deus, veio na plenitude dos tempos. Ele nasceu na cidade de Belém, segundo o plano de Deus. Viveu na Judéia e morreu em Jerusalém, tudo segundo o plano de Deus. E, segundo o plano de Deus, Jesus um dia voltará. Isso vai acontecer quando o Evangelho for pregado em todo mundo. Então virá o fim.
Ele não virá mais como um bebê indefeso, mas em glória e majestade. Virá para julgar os vivos e os mortos, quando "ao nome de Jesus se dobrará todo o joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai" (Filipenses 2.10,11).
Estamos esperando, portanto, a sua vinda em glória, para julgar os vivos e os mortos, para levar junto consigo os que nele crêem e se prepararam para a sua vinda.
O mundanismo hoje está tomando conta do mundo. Muitas pessoas, em vez de se preparar para celebrar o Natal de Jesus, estão se preocupando com as coisas externas, que nada tem a ver com o nascimento de Jesus. Enfeitam a casa, mas não adornam o seu coração. Compram presentes para os seus filhos, mas não reconhecem em Jesus um presente de Deus. Chamam um velhinho inexistente de Papai Noel, quando o nosso verdadeiro Pai é Deus.
O comércio tem se aproveitando desse dia para aumentar os seus lucros através de grandes vendas, fazendo com que muitas pessoas gastem mais do que podem. Depois elas ficam quase o ano todo pagando prestações.
Precisamos novamente recuperar o verdadeiro sentido do Natal. Precisamos de nos conscientizar o que é realmente importante no Natal e o que é secundário. Do contrário, podemos ser surpreendidos como o povo de Israel, que se esqueceu de tal modo do Messias Prometido que, em vez de recebê-lo como um rei, o receberam como um mendigo, deixando-o nascer numa estrebaria, num curral de gado.
Quando Cristo veio pela primeira vez, ele pôde ser desprezado e morto. Mas quando ele vier na segunda vez, em majestade e glória, quem o desprezar, será condenado ao fogo do inferno. E, para que isso não aconteça, Deus envia mensageiros, à semelhança de João Batista, a fim de que preparem o nosso coração mediante a pregação do evangelho, dizendo: "Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus" (Mateus 3.2).
É necessário que nos arrependamos dos nossos pecados para que entre o Rei da Glória, conforme o Salmo 24. Apenas quem tem o seu coração purificado mediante o sangue de Cristo derramado na cruz é que pode receber com dignidade o Rei Jesus vindo em glória.
O povo de Jerusalém, ao ver Jesus entrando na cidade, estendeu as suas vestes e ramos de árvores pelo caminho por onde ele passava, dizendo: "Hosana, ao filho de Davi, bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!" (Mateus 21.9).
Na Santa Ceia, quando lembramos a morte de Jesus e nos preparamos para o seu retorno, nós cantamos: "É verdadeiramente digno, justo e do nosso dever, que em todos os tempos e em todos os lugares te demos graças, ó Senhor, santo Pai, onipotente, eterno Deus. Mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. Portanto, com os anjos e arcanjos e com toda a companhia celeste louvamos e magnificamos o teu glorioso nome, exaltando-te sempre, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor Deus dos Exércitos. Os céus e a terra estão cheios de sua glória. Hosana, hosana, hosana nas alturas! Bendito, bendito, bendito aquele que vem em nome do Senhor. Hosana, hosana, hosana nas alturas!" (Hinário Luterano, página 39).
O livro de Apocalipse é o que mais fala do retorno de Cristo. Por isso, o saudoso professor Dr. Johannes H. Rottmann intitulou o livro que escreveu sobre o Apocalipse de "Vem, Senhor Jesus". Pois no capítulo 5 de Apocalipse encontramos o conhecido Cântico do Cordeiro, onde toda criatura, no céu e na terra, exalta a Cristo dizendo: "Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor". E o apóstolo João conclui, dizendo: "Então ouvi toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Aquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, será o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos" (Apocalipse 5.12,13).
Por isso, neste Natal, como em todos os dias da nossa vida, preparemos o nosso coração, orando como o poeta sacro: "Enche os nossos corações com o teu real poder. De pecados e tentações, vem, Jesus, nos defender. Pois nós somos tua grei. Glória, glória a ti, ó Rei!" (Hinário Luterano 124.1).
E então, um dia na eternidade, podemos cantar junto com o grande coro dos anjos: "Glória a Deus nas maiores alturas e paz (...) entre os homens, a quem ele quer bem".
Lindolfo Pieper
Jaru, RO – Brasil
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