quarta-feira, 1 de setembro de 2010

DIANTE DO TRIBUNAL DE DEUS

Certo homem tinha três amigos. Um dia ele foi chamado ao tribunal. Os seus negócios estavam tão embaraçados que uma condenação parecia inevitável. Nessas circunstâncias recorreu aos seus três amigos, rogando-lhes que o ajudassem.
O primeiro amigo disse: “Tudo o que posso fazer é dar a você um traje novo para comparecer diante do tribunal”. O segundo disse: “Irei com você até a porta do tribunal. É o que eu posso fazer por você”. E o terceiro amigo, de quem mais nada esperava, disse: “Eu entrarei com você no tribunal e falarei a seu favor”. Assim fez. Falou tão bem a favor do amigo, que este foi absolvido pelo tribunal.
Esta estória, dizia um velho oriental, será a história de sua vida no dia da sua morte.
Um amigo lhe dará o seu último trapo, a mortalha: é o dinheiro que vocês tanto amam. É o máximo que pode fazer. Outro amigo lhe acompanhará, é o mundo: os seus pais, seus amigos e conhecidos, que lhe acompanharão até o cemitério. É o máximo que podem fazer. O terceiro e fiel amigo, que não lhe abandonará, mas por você intercederá junto ao tribunal de Deus, é o Senhor Jesus.
Qual dos três amigos estará ao seu lado no dia em que você deixar este mundo, no dia em que você se encontrar com Deus em juízo?
É muito conhecida a história daquela senhora que cometeu um crime e não quis aceitar a ajuda de um advogado amigo, achando que podia se defender sozinha. Depois, no entanto, quando viu que ia ser condenada, resolveu procurar o advogado. Mas era tarde, pois este advogado havia sido nomeado como o juiz da cidade e ele teve que condená-la.
Jesus quer ser o seu advogado. Ele quer defendê-lo diante do tribunal de Deus. Diz o apóstolo João: “Filhinhos, não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo. Ele é o perdão dos nossos pecados, não somente dos nossos, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 João 2.1,2).
Por isso, confie em Jesus enquanto você está aqui neste mundo, antes que você esteja diante do tribunal divino. Então Jesus poderá não mais ser o seu advogado, mas o juiz, que lhe dará a sentença final.
Um dia todos nós estaremos diante do tribunal divino para prestar contas a Deus por tudo o que fizemos ou deixamos de fazer. Por isso, a nossa maior preocupação, enquanto estivermos aqui neste mundo, deve ser a salvação de nossa alma, o preparo para o encontro que teremos com Deus. Diz o apóstolo Paulo em Filipenses 2.12: “Desenvolvei a vossa salvação com tremor e temor”. E Jesus, em Mateus 6.35, nos exorta para que busquemos em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça.
Porém, o que se observa é o contrário. A grande parte da humanidade pouco se preocupa com a sua salvação. Vivem como se não houvesse um dia de prestação de contas.
Uns nem crêem na existência de Deus. Outros até crêem, mas não acreditam que possa haver vida depois da morte. E, como não acreditam na vida eterna, eles fazem das palavras “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” o lema de sua vida.
Há aqueles que crêem tanto em Deus como na vida eterna. Mas estão tão ocupados com as coisas do mundo, com as riquezas e os prazeres da carne, que não conseguem tempo para se preocupar com a salvação de sua alma, para buscar as coisas de Deus. Eles se consolam com o pensamento de que ao homem cabe cuidar da sua vida terrena, pois do futuro Deus se encarrega, que na hora da morte Deus dará um jeito.
Para estes, e para o mundo em geral, é loucura alguém se preocupar com a sua salvação, de se preocupar com as coisas de Deus. Para eles os cristãos são uns tolos, de perder tantas coisas boas que o mundo oferece só por causa da sua salvação.
Eles não conseguem entender como alguém é capaz de ir à igreja todos os domingos, de tirar tempo para ler a Bíblia e renunciar os prazeres da carne por causa da salvação de sua alma.
Mas será tolice mesmo, conforme pensa o mundo, se preocupar com a salvação, com o nosso destino eterno? Será mesmo, como disse Jesus, tão importante assim buscar em primeiro lugar as coisas de Deus?
Conforme A Palavra de Deus, preocupar-se com a salvação e buscar em primeiro lugar o bem estar espiritual é muito mais importante do que podemos imaginar. Tolice é não se preocupar com isso. É tolice por que:
Primeiro: um dia todos nós temos que comparecer perante o tribunal de Deus para lhe prestar contas da nossa vida; segundo: Deus nos deu um prazo a fim de nos preparar para a vida eterna, e esse tempo um dia termina.
Diz Jesus no Evangelho de Lucas, capítulo 16: “Havia um homem rico que tinha um administrador; e este lhe foi denunciado como quem estava a defraudar os seus bens. Então, mandando-o chamar, lhe disse: Que é isso que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, porque já não podes mais continuar nela”.
Aqui nesta parábola Jesus fala de um empregado infiel, de um administrador que gastava os bens do seu dono de uma maneira irresponsável. O administrador agia como se tudo fosse dele, como se nunca tivesse que prestar contas a ninguém.
E assim ele foi levando a vida, gastando o que não era seu, sem se preocupar com o que poderia acontecer no futuro. Mas um dia ele foi descoberto e todos os seus erros vieram à tona: o seu patrão mandou chamá-lo à sua presença, pedindo que ele prestasse contas daquilo que estava fazendo. Disse-lhe o patrão: “Que é isso que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, porque já não podes mais continuar nela”.
Nesta parábola Jesus descreve o procedimento da grande maioria dos homens, que vivem neste mundo sem Deus e praticam tudo o que é tipo de pecado, como se eles não tivessem que prestar contas a ninguém.
Eles não buscam o reino de Deus e nem se preocupam com a sua salvação. Acham que se preocupar com as coisas de Deus é pura perda de tempo. O melhor mesmo é aproveitar a vida, pensam eles.
Porém, pensar assim é uma grande loucura. É loucura porque há um Deus lá no céu, um Deus que tanto pode salvar como condenar. Lemos em Mateus 10.28: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele (Deus) que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo”.
Nós não temos apenas um corpo, temos também uma alma. O corpo, na hora da morte, vai para a sepultura, mas a alma continua a existir. Lemos em Eclesiastes 12.7: “O pó volta à terra, como o era; e o espírito volta a Deus, que o deu”.
E um dia, quando Cristo voltar, o corpo receberá de volta a alma que se desprendeu dele na hora da morte, e ele voltará a viver para sempre. Diz Jesus em João 5.28,29: “Vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem feito o mal, para a ressurreição do juízo”. E no livro do profeta Daniel 12.2 nós lemos: “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão: uns para a vida eterna, e outros para a vergonha e horror eterno”.
O dia em que os mortos ressuscitarão é o dia do Juízo Final. Neste dia todos terão que comparecer diante de Deus para prestar contas a ele por tudo o que fizeram. Assim lemos em 2 Coríntios 5.10: “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem e o mal que tiver feito por meio do corpo”. E o apóstolo Paulo, em Atos 17.31, acrescenta, dizendo: “Por isso Deus adverte aos homens em toda parte que se arrependam, porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça por meio de um varão que destinou”.
Infeliz daquele que comparecer ao tribunal de Deus sem estar preparado, sem ter se preocupado com a sua salvação. Infeliz daquele que viveu em pecado, que não aceitou a Cristo como o seu Salvador.
Este comparecerá de mãos vazias perante o Senhor, nada possuindo, a não ser uma enorme dívida: a dívida do pecado. Como não tem consigo nada para pagar essa dívida, será lançado fora, nas trevas, onde haverá choro e ranger de dentes.
O administrador infiel foi trazido ao seu patrão e acusado por todos os males que praticou. Todos os seus erros foram revelados: os acusadores viram tudo o que ele fizera e contaram ao dono o que sabiam a respeito dele.
Também nós temos os nossos acusadores, aqueles que nos acusam diante de Deus quando erramos, quando cometemos algum pecado. São três os acusadores.
O primeiro acusador é o diabo. O diabo não apenas nos tenta, querendo nos levar ao pecado, mas ainda nos acusa diante de Deus quando pecamos. Em Apocalipse 12 ele é chamado de “o grande acusador, que nos acusa dia e noite diante de Deus”.
O diabo nos acusa diante de Deus cada vez que nós pecamos, dizendo para Deus que pertencemos a ele, pois estamos fazendo a vontade dele e não de Deus. E ele não deixa escapar nenhum pecado, dedura tudo para Deus.
O segundo acusador é Moisés. Diz Jesus em João 5.45: “Não penseis que eu vos acusarei perante o Pai; quem vos acusa é Moisés, em quem tendes firmado a vossa confiança”.
Moisés simboliza a lei, visto que a lei nos foi dada através dele. E como é que a lei nos acusa? Simplesmente dizendo que estamos errados quando cometemos algum pecado. Cada vez que cometemos algum pecado a lei nos mostra o erro que cometemos, levando-nos às vezes ao desespero. Para isso servem os mandamentos: para mostrar os nossos pecados.
O terceiro acusador é a consciência. A nossa consciência, assim como a lei, nos acusa cada vez que cometemos algum pecado. Ela nos faz sentir tristeza e provoca até mesmo remorso em nós pelos nossos pecados. Ela não nos deixa em paz enquanto não nos arrependemos dos nossos pecados e buscamos o perdão de Deus.
Todos esses acusadores nos acusam de havermos desperdiçado os bens do nosso dono. Isto é: eles nos acusam de termos pecado contra Deus. E eles têm razão.
Deus, como aquele homem rico, nos confiou uma riqueza enorme, que são: os nossos bens, dons, talentos e oportunidades. E o maior deles é o dom da salvação, a graça de Deus que nos é oferecida na palavra e nos sacramentos. Ai daquele que desperdiçar esse dom, não valorizando o que Deus nos oferece através de Cristo.
Mas ainda é tempo de usarmos os nossos dons a serviço do Senhor, de buscarmos a Deus e de desenvolver a nossa salvação.
Aquele administrador infiel, do qual Cristo fala no nosso texto, depois de ser acusado, teve tempo para por em dia os seus negócios e sair da situação difícil em que se encontrava.
Quando ele soube que fora acusado perante o seu chefe, não perdeu tempo, mas logo procurou uma maneira de escapar do perigo e sair do aperto em que se encontrava. Ele disse consigo mesmo: “O que farei, pois que o meu senhor me tira a administração? Trabalhar na terra não posso; também de mendigar tenho vergonha. Eu já sei o que farei, para que, quando for demitido da administração, me recebam em suas casas”.
Ele chamou em seguida aqueles que deviam ao seu chefe e lhes perdoou a metade da dívida. Assim essas pessoas se tornaram em seus amigos; e ele, ao ser despedido pelo patrão, tinha agora onde ficar: na casa dos amigos.
Jesus conta essa história para nos mostrar que, assim como os filhos do mundo são espertos, usando de toda a astúcia e expediente para escapar de alguma dificuldade, assim também os cristãos devem usar de toda a prudência para escapar da condenação eterna. Eles devem de aproveitar bem o tempo que têm para se preparar para a outra vida. Devem se arrepender dos seus pecados e confiar no perdão de Deus antes que seja tarde.
Como o patrão daquele administrador infiel, Deus também se dirige a nós, dizendo: “O que é que você está fazendo? Preste conta da sua vida!”
Cada vez que ouvimos a palavra de Deus, Deus nos convida a prestar contas daquilo que estamos fazendo. Através da sua palavra Deus nos lembra que somos pecadores e que haverá um dia de prestação de contas. Por isso é necessário que aproveitemos o tempo que nos resta nesta vida para nos arrependermos dos nossos pecados e buscar o perdão de Deus.
O administrador infiel, na hora do aperto, tinha a quem recorrer: os seus amigos. Os seus amigos o socorreram na hora do perigo, dando-lhe proteção.
Também nós temos a quem recorrer. Quando Deus exigir prestação de contas de nós, nós podemos recorrer a Jesus. Jesus pagou pelos nossos pecados. Ele é o nosso amigo.
Quando a nossa consciência, ou a lei, ou o próprio diabo nos acusar diante de Deus, Jesus se transforma em o nosso advogado e nos defende, dizendo que os nossos pecados já foram perdoados, que não há mais nada contra nós. Diz o apóstolo João: “Filhinhos, não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo; e ele é a propiciação pelos nos pecados, e não somente pelos nossos, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 João 2.1,2).
Quando alguém entra em questão com alguma pessoa e leva o caso ao juiz, a pessoa acusada precisa de um advogado para se defender. E ajustar um advogado não é para qualquer um; é preciso muito dinheiro.
No entanto, para Jesus ser o nosso advogado não é preciso de dinheiro. Ele requer de nós apenas que reconheçamos os nossos pecados e confiemos que ele pode nos salvar. Diz ele na sua palavra: “Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna; não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (João 5.24).
Se Deus lhe chamasse hoje para lhe prestar contas da sua vida, você estaria preparado para enfrentar o tribunal divino? Você tem a Jesus como o seu Advogado, Salvador e Amigo?
Lembre-se: um dia você estará diante do tribunal de Deus. Cuidado para não comparecer diante de Deus de mãos vazias, sem fé e sem arrependimento. E o que é pior: sem o advogado Jesus.
Por isso, busquemos, enquanto é tempo, as coisas de Deus, preocupando-nos com o nosso destino eterno, desenvolvendo com temor e tremor a nossa salvação, para que, quando estivermos diante do tribunal divino, Deus possa nos dizer: “Vinde, benditos de meu Pai. Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”.

Lindolfo Pieper
Jaru, RO – Brasil
Evangélica Luterana do Brasil

DUAS VIDAS, DUAS ESCOLHAS E DOIS DESTINOS

Havia certa vez um rei muito alegre e carinhoso, que procurava governar seu país da melhor maneira possível. Tinha ele na sua coorte um bobo, a quem muito amava. Quando o rei ficava preocupado com os problemas do estado, o pequeno bobo sempre conseguia fazer com que ele risse e se alegrasse um pouco.
Um dia, porém, já cansado com as brincadeiras do bobinho, o rei teve uma idéia. Chamou o bobo para o seu quarto e lhe entregou um bastão de ouro, dizendo: ”Meu querido bobinho, quando você encontrar um bobo mais bobo que você, você deve dar-lhe de presente este bastão de ouro”.
E assim o pequeno bobo saiu pelo mundo afora, à procura de um bobo mais bobo do que ele. Ele andou, andou. Procurou por todos os lugares, e não encontrava. Até que foi chamado de volta para o palácio.
No palácio ele encontrou o rei gravemente enfermo, que o mandou chamar para se despedir dele, dizendo: “Meu querido bobinho, estou de partida para uma jornada muito longa, da qual nunca voltarei”. Ele se referia à sua morte. O pequeno bobo, muito sentido, lhe pergunta: “E vossa alteza está preparado para esta jornada?” “Não, não estou”, respondeu o rei. Então disse o bobinho, meio surpreso: “Nesse caso devo de lhe presentear este bastão de ouro, pois encontrei o bobo mais bobo do que eu!”.
Quantas pessoas, a semelhança desse rei, estão se divertindo por este mundo afora, sem se preocupar com o seu destino eterno, com o encontro que terão com Deus. Estão para, a qualquer momento, fazer uma viagem, de onde nunca voltarão, sem, no entanto, estar preparado. Diz Jesus numa parte dos Evangelhos: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma. E o que tens preparado para quem será?” (Lucas 12.20).
Nós não sabemos o dia e nem a hora da nossa partida. Por isso devemos estar preparados sempre: preparados para nos encontrar com Deus na eternidade na hora da morte e do Juízo Final.
O Evangelho de Lucas, capítulo 16, traz um dos mais notáveis discursos de Jesus. Jesus fala de duas pessoas, de duas escolhas e de dois destinos. Ele fala de um homem rico e de um homem pobre, de como eles viveram diferentemente aqui na terra e onde cada um foi parar no final da viagem dessa vida.
A história desses dois homens é a história de cada um de nós. Cada um de nós está representado em um desses dois personagens: ou somos o rico que está indo para o inferno, ou somos o pobre que vai para o céu. Não há uma terceira alternativa. Diz Jesus: “Ora, havia certo homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e que todos os dias se regalava esplendidamente”.
O nome do rico não é mencionado. Ele é apenas chamado de rico. Era um homem da alta sociedade, que morava numa casa luxuosa, que possuía muito dinheiro, que se vestia bem e comia do melhor. Era alguém que fazia da sua vida uma festa.
Bem em frente de sua casa se encontrava um outro homem, cujo nome é Lázaro. Lázaro, com o corpo todo coberto de feridas, passava o dia inteiro junto à porta do rico, a espera de comida. Ele catava no lixo o que o rico jogava fora para se alimentar. Era a única coisa que ele podia fazer, já que a sua saúde não lhe permitia trabalhar.
Que boa oportunidade do rico mostrar a sua bondade, de que tinha um bom coração. Mas ele tinha um coração duro, não se importava com ninguém, a não ser consigo mesmo. Os seus cachorros eram mais caridosos do que ele, pois ao menos eles vinham lhe lamber as feridas, a fim de amenizar a sua dor. Mas o rico nem remédio lhe dava.
Porém um dia o mendigo morreu. A morte pôs fim ao seu sofrimento. Não nos é dito o que foi feito com o seu corpo. Provavelmente os empregados do rico deram um jeito nele, enterrando-o numa vala qualquer.
Mas não foi apenas o mendigo que morreu. O rico também teve que passar pela morte. A riqueza não é uma garantia contra a morte. O homem pode ser rico como for, pode ter todo o poder na mão e dispor dos melhores médicos, que ele morre assim mesmo. Não foi assim com Alexandre o Grande, Adolfo Hitler, John Kenedy, Tancredo Neves, Mario Covas, Airton Senna e João Paulo II?
Enquanto que Lázaro, numa vara de bambu, era levado para ser enterrado num buraco qualquer; o rico, com certeza, teve um grande funeral.
Num caixão de primeira, com um belo terno, rodeado de altas personalidades da época; e, ao som de uma marcha fúnebre, desceu à sepultura. E, como sempre, todo mundo lamentando a sua morte, dizendo: “Ele era um homem muito bom. Ele não devia ter morrido. Vamos sentir muito a falta dele”.
Mas a história dos dois não termina aí. Ela continua, pois a vida não termina com a morte. Depois da morte vem a eternidade. Diz Jesus: “Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado. No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim e mande a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama”.
Assim como na vida os dois tiveram sorte diferentes, assim também na eternidade os seus destinos foram diferentes. Enquanto que Lázaro, que não tinha nada na vida, foi para o céu; o rico, que tinha tudo, foi para o inferno. Por que isso? Será que é pecado ser rico, que o lugar de rico é no inferno?
Não. Não é pecado ser rico. Os ricos também podem ir para o céu. A Bíblia cita vários exemplos de pessoas que foram muito ricos e que, no entanto, foram para o céu, como: Abraão, Isaque, Jacó, Davi, Salomão, Jó e muitos outros.
A riqueza, no entanto, pode representar um grande perigo para o ser humano. Tanto assim que a Bíblia em vários lugares nos exorta para cuidar-nos com a riqueza. Diz Jesus em Lucas 12.15: “Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza, porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui. Pois o que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”
E o apóstolo Paulo, em 1 Timóteo 6.9,10, acrescenta dizendo: “Os que querem ficar ricos caem em tentações e ciladas, e em muitas concupiscências perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”.
Esse foi o problema do homem rico da história que Jesus contou. Ele apenas se preocupou com a riqueza quando estava vivo e se esqueceu da sua alma. Não tinha tempo para Deus, pois os negócios terrenos tiravam todo o tempo dele.
Mesmo que tivesse tempo, ele não se preocupava com ele. Tinha tudo o que precisava para a vida, porque se preocupar com a eternidade, pensava ele.
Em resumo, podemos dizer que o rico não era cristão, não tinha fé no seu coração. Pois se tivesse fé, teria socorrido a Lázaro, dando-lhe comida, remédio e roupa. A fé sempre vem acompanhada de obras, dentre as quais se destacam o amor e a hospitalidade.
Jesus, no dia do Juízo Final, ao julgar o mundo, vai usar as obras como provas da fé. Neste dia, todos aqueles que procederam como o rico, vão ter que ouvir da sua parte: “Apartai-vos de mim, malditos para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer. Tive sede e não me destes de beber. Sendo forasteiro, não me hospedaste. Estando nu, não me vestiste. Achando-me enfermo e não fostes ver-me” (Mateus 25.41-43).
E Lázaro, por que ele foi salvo? Por que ele era pobre? Não. A pobreza não salva ninguém. Muitos pobres já foram para o inferno porque, como o rico, não tiveram fé.
Lázaro foi salvo e está no céu porque tinha fé, porque ele era uma pessoa cristã. O seu próprio nome diz isso, pois Lázaro significa “o Senhor é a minha salvação”.
Como cristão Lázaro carregou com paciência a sua cruz. Não murmurou, até ser levado pelos anjos para o seio de Abraão, onde se encontra até hoje.
A história do rico e Lázaro nos ensina três coisas muito importantes.
Primeiro: o destino de uma pessoa se traça aqui na terra, depois da morte é tarde.
Conforme Jesus, no momento em que Lázaro morreu, ele foi para o céu e o rico para o inferno. Depois, quando o rico pediu a Abraão que lhe mandasse um pouco de água, este lhe respondeu dizendo que isso não era possível, pois um grande abismo os separava, de sorte que os que estavam no céu não podiam ir para o inferno, nem os que estavam no inferno ir para o céu. E isto está de acordo com Hebreus 9.27, que diz: “Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disso o juízo”.
Se de fato é assim, como realmente é, preparemo-nos enquanto estamos no mundo para a outra vida, a fim de não irmos também para o inferno.
Em segundo lugar: o inferno existe, e é um lugar horrível. Devemos fazer de tudo para evitá-lo.
A Bíblia fala muito em inferno. E, sempre quando fala dele, ela usa uma linguagem terrível, como: o fogo que nunca se apaga, lugar de trevas e ranger de dentes, tormento eterno e assim por diante.
Na história que Jesus contou, o rico sofria tanto que ele se contentava com uma gota de água, pois estava atormentado em chamas.
Muitas pessoas negam a existência do inferno, afirmando não existir tal lugar. Elas fazem Jesus de mentiroso, pois ele ensinou claramente que o inferno existe. Em vez de negar a existência do inferno, essas pessoas deviam prevenir aos outros para não irem para esse lugar.
Negar a existência do inferno não resolve o problema. É preciso ensinar a verdade sobre o assunto, mesmo que não gostemos desse lugar.
Em terceiro lugar: o que leva muitas pessoas para o inferno é o desprezo para com as coisas de Deus e a excessiva preocupação com a riqueza. Devemos de nos cuidar para não cair nesse erro.
O homem rico foi para o inferno porque desprezou a palavra de Deus, só se preocupando com os bens materiais. Que esse foi o seu problema, vemos na história que Jesus contou.
Quando o rico pediu que Abraão mandasse alguém dentre os mortos para avisar aos seus irmãos para que não viessem também para o inferno, este lhe respondeu: “Eles têm Moisés e os profetas, ouçam-nos”. Isto é: eles têm a Bíblia, por que não escutam o que ela diz?
Muita gente não consegue tempo para Deus por causa dos prazeres da vida. Querem aproveitar tudo o que o mundo lhes oferece, e acabam perdendo a sua alma.
É preciso que cuidemos. Temos um corpo, mas temos também uma alma. Se não cuidarmos da nossa alma, alimentando-a espiritualmente, vamos acabar indo, como aquele rico, de corpo e alma para o inferno.
Por isso, cuidemo-nos um pouco mais, pois o inferno não é brincadeira. Muitas já foram para lá, e outros tantos estão a caminho dele. Não deixemos que os bens materiais e os prazeres da vida nos atrapalhem espiritualmente. Coloquemos as coisas no divido lugar: em primeiro lugar a nossa alma, depois as coisas da vida.
Se assim o fizermos, preparando-nos espiritualmente, em lugar de inferno, teremos o céu. E, às portas da eternidade, Jesus nos dirá: “Vinde, benditos de meu Pai, entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”.

Lindolfo Pieper
Jaru, RO – Brasil
Evangélica Luterana do Brasil


O SENHOR É O MEU PASTOR

Certa vez um conferencista muito famoso foi assistir a um culto no domingo de manhã em uma igreja na Escócia. Como se tratasse de um grande orador, foi-lhe pedido que recitasse o Salmo 23. Ele concordou. Recitou com muita graça e perfeição o salmo. A congregação ficou impressionada com a sua declamação.
Em seguida alguém da platéia pediu que o pastor recitasse o mesmo salmo. Humilde, mas sinceramente, ele o fez com grande sentimento. Quando terminou, a congregação tinha lágrimas nos olhos de emoção.
O culto terminou. Um amigo do conferencista veio ter com ele e perguntou-lhe se havia notado o efeito diferente que as duas recitações tinham tido sobre o povo. Por um momento o orador guardou silêncio. Depois replicou com um alto senso de humildade: “Sim, eu notei. É que eu conheço o salmo, mas ele conhece o pastor”.
O Salmo 23 é o salmo mais bonito, conhecido e lido por todos. Quantas pessoas, no leito da morte, já não recitaram este salmo? Outras pessoas, em momentos de dificuldades, tribulações e angústias encontraram neste salmo consolo, conforto e ânimo.
O Salmo 23 é tão consolador e confortante porque nasceu da experiência do próprio autor. O salmista Davi neste salmo conta a sua própria experiência. Ele no Salmo 23 retrata a sua própria vida.
Assim como as ovelhas estão sujeitas a muitos perigos, necessitando de alguém que as cuide, assim também ele, Davi, precisava de um bom pastor que tomasse conta de sua vida nesse mundo de perigos, dificuldades e tentações. Portanto, para entendermos bem o Salmo 23 é preciso que conheçamos alguma coisa sobre as ovelhas.
A ovelha é um animal manso, indefeso e que necessita de muitos cuidados da parte do pastor. Especialmente nos tempos bíblicos, em que foi escrito o salmo, existiam muitos ladrões, assaltantes e animais ferozes. O pastor tinha que ficar em constante alerta contra os perigos. Além disso, era o pastor que levava as ovelhas para o pasto e depois as reconduzia de volta.
Também nós nesta vida enfrentamos muitas dificuldades, perigos e obstáculos. Precisamos muito de um bom Pastor que nos ajude. E Deus está sempre pronto para nos ajudar e defender contra todos os perigos. Ele não nos deixa faltar nada: dele vem o sustento e a força para a vida. Por isso podemos dizer: “O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará”.
Um dos trabalhos do pastor de ovelhas era procurar sempre a melhor pastagem para as suas ovelhas, como também água limpa e fresca. E os pastores faziam isso com muito cuidado, porque sabiam que disso dependia o seu sucesso como pastor.
Também o nosso bom Pastor Jesus procura sempre o melhor para nós. Deus nos ama e por isso procura sempre o nosso bem. Tudo o que precisa ser feito por nós, ele o faz.
Embora o pastor de ovelhas sempre deseje o bem de suas ovelhas, ele, no entanto, tinha que fazer algumas coisas com elas que elas não gostavam.
Quando, por exemplo, elas estavam com bicheira, era preciso colocar remédio na ferida, o que ardia muito. Outras vezes ele tinha que lhes aplicar uma injeção ou ainda fazer uma pequena cirurgia a fim de abrir um tumor.
Também nós como cristãos passamos por coisas que não gostamos e nem entendemos. Algumas vezes são problemas financeiros, outras vezes é um acidente, doença ou ainda a morte. Mas Deus sabe o que é melhor para nós. Diz ele em sua Palavra, em Isaías 29: “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito: pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais”.
Deus nunca deseja o mal de seus filhos, mas sempre o bem. Por isso doenças, dificuldades nos negócios, acidentes e morte, não devem ser considerados pelo cristão como um castigo, mas sim como uma bênção. É o que o apóstolo Paulo diz em Romanos 8.28: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”.
Mas o pastor de ovelhas tinha que fazer coisas ainda piores do que aplicar injeção e rasgar tumores: ele tinha que às vezes quebrar a perna das ovelhas rebeldes e fujonas para que ficassem junto com as outras ovelhas.
Um pastor conta que ele tinha certa vez uma ovelha que não lhe obedecia: sempre passava na cerca, fugia e não queria ficar junto com as outras ovelhas. Ele fez de tudo para segurá-la: colocou-a num pasto melhor, mas nada adiantou.
E, a fim de que ela não estragasse as outras ovelhas, o pastor teve que fazer uma coisa que ele não gostava, mas que foi obrigado a fazer: teve que quebrar uma das pernas da ovelha. E depois que ele quebrou a perna dela, ela nunca mais saiu do pasto e nem se afastou das outras ovelhas.
Quantas vezes nós como cristãos também nos afastamos da comunhão com Deus, nos tornamos rebeldes, fugimos e não mais o obedecemos. Deus nos chama de volta pelo Evangelho, faz de tudo para não nos perder. Mas quando ele vê que não tem jeito, ele nos joga na cama, permite acontecer um acidente na nossa vida, um fracasso financeiro, a fim de nos trazer de volta para a Cristo. É o que nós lemos em Hebreus 12: “Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele é reprovado. Porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo a quem recebe como filho”.
Nesse sentido a própria morte do cristão pode ser considerada uma bênção: Deus o está chamando ao descanso eterno antes que ele se desvie ou sofre mais sobre a terra. Deus conhece a vida e o fim de cada um de nós. Ele sabe o que pode acontecer quando uma pessoa viver mais tempo sobre a terra.
Por isso, antes que ele se desvie ou passe por grandes sofrimentos, Deus o leva para junto de si. Ouçam o que Deus diz em Isaías 57: “Perece o justo e não há que se impressione com isso? E os homens piedosos são arrebatados, sem que alguém considere nesse fato! Pois o justo é levado antes que venha o mal e entra na paz. Descansem nos seus leitos os que andam em retidão”.
Por isso dizemos no Salmo 23: “Ainda que eu ande pelo vele da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo”.
Ora, se Deus está conosco e se Deus só deseja o nosso bem, então não precisamos ficar com medo, mesmo quando passamos por momentos difíceis, pois tudo cooperará para o nosso bem.
E, quando as dificuldades da vida forem tão grandes que não podemos mais suportar, fazendo a nossa alma sair do corpo, podemos ter a certeza de que “habitaremos na casa do Senhor para todo o sempre”.
Esse é o Salmo 23. Aqui está o motivo porque os cristãos, nas mais diversas situações, encontram consolo, conforto e ânimo nesse salmo.
Conhece você o bom Pastor? Pode você dizer o mesmo que o salmista Davi: “O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará?”.
Se a sua resposta for sim, então enfrente a vida com a cabeça erguida, certo de que com a presença do bom Pastor Jesus nada lhe faltará. De que, enquanto estiver aqui neste mundo, neste vale de lágrima, a bondade e a misericórdia do Senhor lhe acompanhará todos os dias da sua vida. E quando a vida terminar, você tem a certeza de que irá habitar com o Senhor para todo o sempre. Amém.

Lindolfo Pieper
Jaru, RO – Brasil
Evangélica Luterana do Brasil