O livro de Apocalipse tem sido infelizmente alvo de muitas interpretações errôneas, provocando ensinamentos que não concordam com o restante da Bíblia. A seguir seguem alguns exemplos dessas falsas interpretações, mostrando as suas falhas.
Princípios da hermenêutica. A Bíblia é uma unidade. Não pode haver contradição. Ela se interpreta a si mesma. Passagens mais difíceis devem ser entendidas à luz de passagens mais claras. Especialmente ao se tratar de livros proféticos, deve-se tomar muito cuidado, pois usam uma linguagem figurada, cheia de símbolos.
Interpretação linear. Muitos acham que o livro de Apocalipse segue uma linha cronológica, que cada acontecimento representa uma época. Se assim fosse teríamos cinco fins do mundo, três juízos finais, três grupos de salvos, três babilônias, três armagedons e três novos céus e nova terra.
Os que assim pensam desconhecem algumas características da profecia, que são: repetir o mesmo assunto sob outro ângulo (recapitulação), usar imagens fortes para impressionar a mente (dramatização) e usar como pano de fundo um acontecimento para falar de outro que com ele se assemelha (background).
Marca da besta. Muitos acham que é um número literal, que um dia muitos vão aparecer com uma marca na testa, e quem não a tiver não pode comprar e nem vender.
Quem acha que essa marca é literal, deve também acreditar que o selo de Deus na testa é também uma coisa literal, visível aos olhos humanos (Ap 9.4).
O número 666 é simbólico, representa a absoluta imperfeição. É sete menos um. Como sete é o número da perfeição, do eleito de Deus (4 + 3), seis é o número da imperfeição. É alguém que não conseguiu chegar a sete, por faltar-lhe Cristo no coração. O selo de Deus é o Espírito Santo que a pessoa recebe no momento da fé (Ef 1.13,14; 4.30; 2Co 1.22; Ap 9.4).
As duas testemunhas. Muitos acham que Moisés e Elias vão voltar a terra para pregar o evangelho, o que pressupõe que eles vão passar pela morte uma segunda vez e que os mortos vão pregar o evangelho, o que contraria aquilo que a Bíblia diz em Hb 9.27; Lc 16.31; Rm 10.17. Eles cometem o mesmo erro dos judeus, que esperavam a vinda de Elias novamente em carne; e Jesus lhes mostra o erro, dizendo-lhes que Elias já tinha vindo e estava entre eles (Mt 17.10-13).
As duas testemunhas representam a igreja em ação aqui no mundo, pregando Lei e Evangelho (Ap 11.3-6). Há aqui uma alusão clara a Moisés e Elias: Moisés representando a Lei e Elias os profetas, ou seja, o Evangelho.
Armagedom. Armagedom é para muitos um acontecimento que terá lugar no monte Megido, em que os cristãos de todo mundo, liderados por Cristo, vão lutar contra os inimigos do evangelho, comandados pela besta e o falso profeta, que ficam cuspindo sapos de sua boca a fim de amedrontar os homens.
Nesta batalha os inimigos serão mortos pelo exército de Cristo, cujo sangue escorre até o freio dos cavalos, numa extensão de trezentos quilômetros. Estes corpos ficarão estirados no chão, servindo de comida para as aves dos céus.
Esta idéia, porém, tem alguns inconvenientes: 1) Deus vai ter que fabricar este monte, pois tal lugar não existe; 2) O povo de Deus vai ter que se deslocar para a Palestina e pegar em armas para defender o evangelho, o que contraria as Sagradas Escrituras (Ef 6.11-13,17; Mt 26.52).
Armagedom é uma guerra espiritual, em que os inimigos de Cristo, comandados pela besta e o falso profeta, vão se unir para destruir a igreja. Mas antes que isso aconteça, Deus intervém, colocando fim no atual sistema de coisas. É a mesma batalha que encontramos no capítulo 6 (Sexto Selo), no capítulo 9 (Sexta Trombeta), no capítulo 19 (Cristus Victor) e no capítulo 20 (Gogue e Magogue).
É uma maneira simbólica para se falar do Juízo Final, que, para os inimigos de Cristo será um dia de vingança (Ap 6.12-17). É a vindima de Ap 14.17-21, onde fala do lagar da cólera de Deus, em que o sangue dos inimigos de Cristo corre até o freio dos cavalos, numa extensão de trezentos quilômetros.
Os reis da terra, liderados pela besta, são os governos do mundo (dez chifres, dez dedos), que perseguem a igreja ou adotam filosofias anticristãs, como o marxismo, o comunismo, o islamismo, o budismo, o xintoísmo e o espiritismo.
Os sapos expelidos pela boca do dragão, da besta e do falso profeta (Ap 16.13,14) representam os falsos profetas que vão sair pelo mundo afora para enganar o povo com os seus falsos ensinamentos, operando grandes sinais e prodígios. A sua atuação será tão intensa que obrigará Deus a apressar a vinda de Cristo, para que os próprios eleitos não se percam (Mt 24.22-24).
Nesta batalha não haverá derramamento de sangue. A espada que sai da boca de Cristo é a espada do Espírito, que é a palavra de Deus, também chamada de o sopro da sua boca (2 Ts 2.8). As aves, comendo a carne das vítimas, representam os demônios simbolicamente devorando os condenados no inferno (Ap 19.17,18). No livro do profeta Isaías, numa linguagem figurada, esses corpos ficam estirados no chão, queimando no fogo, numa alusão clara ao fogo do inferno (Is 66.24; Mc 9.42-48).
O anticristo é a personificação dos falsos profetas e falsos cristos, que enganam o mundo com falsos ensinamentos, obrigando Cristo a abreviar a sua volta. Nota-se que Cristo e os apóstolos, ao falarem da besta e do falso profeta, o fazem no plural, como os reis da terra e falsos cristos, o que sugere uma união de forças, sendo as duas bestas apenas os seus representantes.
Milênio. Segundo alguns, o milênio é um período de paz que vai anteceder a vinda de Cristo, em que o lobo vai morar com o cordeiro e todo o Israel será salvo.
O milênio é um ensino materialista, que pressupõe que os israelitas mortos vão ressuscitar e ter uma segunda chance, o que contraria as Escrituras (Hb 9.27). Pressupõe também que Cristo virá um dia governar pessoalmente este mundo, o que contraria o que o próprio Cristo disse: “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18.36).
O milênio material não tem lugar nas Escrituras. Milênio é o tempo da graça, da igreja de Deus aqui na terra no período do Novo Testamento. Com a vinda de Cristo o mundo acaba, dando lugar ao novo céu e a nova terra (Is 11.4-9; 2 Ts 1.7-9; 2 Pe 3.10-13; Ap 21.1-8).
O acorrentamento de Satanás é uma maneira simbólica de se falar que o poder de Satanás foi limitado. Começou com o ministério público de Cristo (Lc 11.20-22), culminando com a sua morte na cruz (Cl 2.14,15; Ap 12.7-9; Jo 12.31-33; Hb 2.14,15; 1 Pe 3.18,19).
A primeira ressurreição é a ressurreição espiritual, que ocorre na conversão (Cl 2.12,13; 3.1-4; Ef 2.1,5,6; Jo 5.24,25). A segunda ressurreição é a ressurreição do corpo para a vida eterna, que ocorre na volta de Cristo (Jo 5.28,29). A segunda morte é a condenação eterna (Ap 20.10,14). Assim: Quem não fizer parte da primeira ressurreição (conversão), também não fará parte da segunda (vida eterna).
Lindolfo Pieper
Jaru, RO – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil